Os perfumes de celebridades ocupam um ínfimo espaço no mercado da perfumaria. Segundo Karen Grant, da empresa de pesquisa de mercado NPD, 46% dos perfumes premium (aqueles que custam mais que 75 dólares) vendidos em 2008 eram de marcas de estilistas. Os perfumes de celebridades ficaram com 1% das vendas. Em outras palavras, se você tivesse dinheiro e, supostamente, bom gosto, não iria comprá-los. Como arte - criatividade, qualidade, legitimidade - a reputação desses perfumes é abissal.
Talvez seja por isso que Jennifer Lopez e Celine Dion têm perfumes, mas Cate Blanchett e Helen Mirren não. Pode ser porque a J-Lo possui uma forte necessidade de associação do nome aos produtos para monetizar sua celebridade, enquanto Hellen se concentra na atuação. Pode ser também porque muito da perfumaria das celebridades é um autêntico lixo.
Tome como exemplo o Blue Seduction for Women, do Antonio Banderas. O fascinante é que ele não diferencia se alguém reage ou está consciente de suas impressões sensoriais: o perfume não proporciona nenhuma das duas coisas. Ou melhor, ele traz 60 segundos de uma água adocicada vagamente prazerosa, e depois? cai a linha. O perfumista Olivier Cresp construiu dois dos melhores perfumes da virada do século 21, Angel e Light Blue. Não consigo nem começar a imaginar o que Cresp - a quem Blue Seduction é creditado, ao lado do (bem no estilo Hollywood de ser) comitê de estilo que tem Anotino Puig, Elisabeth Vidal e Rosendo Mateu - fizeram em, para, com ou por este projeto. O único cenário que posso imaginar é que a empresa licenciada liberou uma miséria de verba por quilo de matéria-prima, então eles foram obrigados a usar o material mais barato do mercado.
Esta fragrância não serve nem para ser usada no sabonete líquido genérico de uma drogaria.
É por isso que as exceções à regra são tão impressionantes. O time criativo de Elizabeth Arden contratou a talentosa perfumista Caroline Sabas para criar a fragrância Midnight Fantasy para a Britney Spears, deu-lhe dinheiro para a criação e a deixou trabalhar bastante. O resultado é a perfeita encarnação olfativa de Britney (nas telas, não na direção de um carro) e uma obra-prima da nova categoria olfativa neon doce/ ultra-gourmand.
Caroline Sabas pegou o etil maltol e o instalou como uma jóia no novelo olfativo de sintéticos adocicados de morango, framboesa e manga. É o pesadelo dos dentistas e um sonho sensorial: o cheiro explode deliciosamente na pele. Se o Chanel Nº. 5 fosse o sabor de uma bala, seria assim.
Além disso, é um trabalho técnico excelente. Antes é preciso, claro, aceitar as premissas da estética do gênero. Aqui, a perfumista transcendeu o gênero.
Duas observações: não há lei nenhuma que diga que os perfumes de celebridades devem ser menores que os perfumes de estilistas, e os ultra-gourmand são maravilhosos quando bem realizados. Midnight Fantasy ilustra as duas coisas com mestria.
Midnight Fantasy
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