Sem causar comoção e monótonos na constante repetição de clichês, os desfiles masculinos cumprem seu papel, mas estão longe de serem arrebatadores ou apresentarem algo novo. Há exceções é claro, e vez ou outra surge algo comercial.
Na última edição do SPFW, o cenário mudou e Alexandre Herchcovitch responsável este, pelos momentos mais radicais da estação anterior (todos lembram dos modelos maquiados de caveira no último desfile), não está mais sozinho. Ao seu lado, com linguagem totalmente diferente, aparece na cena João Pimenta.
Desfilando no mesmo dia, os dois mostraram propostas afiadas, arriscadas, e excitantes.
Tudo com maior nível técnico!!!
#Alexandre Herchcovitch: Virilidade e Drama
Para falar do embate entre o homem e a natureza em suas condições mais extremas, em apresentação de grande impacto na SPFW, Herchcovitch usou máscaras, óculos escuros, tecidos de proteção e coturnos pesados. completamente certeiros para a alfaiataria inventiva, de calças soltas do corpo, casacos protetores e texturas agitadas.
Embaralhar gênero, mesclando moda feminina e masculina, como fez João Pimenta, é um recurso corrente e importante na moda e na cultura global.
E é também coisa que Alexandre minimiza nesta coleção. ele opta por assumir densidade de condições de sobrevivência, pós catástrofes ambientais, enchendo a passarela de virilidade e drama.
São muitos e excelentes os casacos de nylon e outros tecidos tecnológicos, a maioria de alma utilitária. eles são variados no comprimento e todos desejáveis. Jaquetas, peltós, camisas, calças folgadas e calças retas concorrem para o desenho da silhueta recortada, repleta de sobreposições e ainda assim bem construída.
O cruzamento de matérias-primas é o caso à parte, com astracã sintético, cetim, cashmere, nylon teflonado, couro de cobra, couro sintético e acetato térmico protetor indicados para o dia a dia em um futuro ameaçador. E nem tão distante assim.
#João Pimenta: Gênero e Religião
A coleção de João Pimenta embute alegorias religiosas e embaralha gêneros, transformando os rapazes em freiras, padres e bispos. Trata-se de uma visão radical das possibilidades da roupa masculina sobre a base clássica, e o estilista não vacila, realizando com maestria o que se propõe a fazer.
Não é moda comercial, no sentido corrente dado ao termo.
Trata-se de uma aula de excelência técnica e de construção de imagem.
Cortes limpos, caimento exato e um senso de luxo austero e equilibrado, que abre caminho para o revigorante exercício formal sobre a forma trapézio.
Com enormes volumes arredondados nos quadris,em calças alinhadas, casacos e vestes feitos em refinada alfaitaria, o estilista introduz um vocabulário novo em terreno árido.
João Pimenta ainda tem senso apurado também para o decor, traduzidos em bordados perfeitos. Se quiser uma roupa usável, fique com os tricôs claros, volumosos e desejáveis,as calças retas, os coletes encurtados e alguns casacos, que estão nos momentos realistas da coleção.
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