. O inverno 09 - Judaísmo nagô, africanismos de sinagoga. Para este inverno, a Reserva ligou Israel à África através da Jamaica, tentando fazer uma coleção kosher até a última ponta.
A intenção tinha bem um fundo político, de paz entre os povos e felicidade entre os de boa vontade. Daí o momento "bandeira branca, amor" no final do desfile e o perfume hippie na passarela.À primeira vista, a apresentação é tão enrolada quanto a inspiração. Mas é só passar um paninho úmido no make exagerado (e feio) do rosto dos meninos e aproveitar para limpar também o styling.
Aí sim dá para pinçar um bom número de peças para um closet esperto. Este inverno é muito mais maduro e interessante que a estreia na última temporada. Menos afetado, é verdade. Mas nem por isso chama menos atenção - afinal, o que sempre marcou a identidade desta trupe carioca não era a afetação, mas seu apuro estético.A silhueta agora é larga, jogada, até um bocado mulambenta.
Daí que eles vêm com algumas das melhores calças saruel da temporada - em sarja ou moletom - e arrasam nos tricôs jogados sobre o corpo, em suéteres e casacos. A estamparia cuidadosa também chama a atenção: dos grafismos africanos à lindíssima "aurora boreal" - em branco manchado e em verde fluo no final.Apesar dos infelizes quipás bordados em formato de flor, o styling investe nos acessórios religiosos, incluindo os tsitsits - aqueles rabichos que os judeus ortodoxos usam na cintura.
Ganha força nos pingentes tipo patuá - estrelas de Davi + figas - e nos grandões de acrílico, que realmente deveriam chegar às ruas.A Reserva ganha pontos (e muitos!) ao experimentar no campo dos tecidos e materiais.
Daí vem coletes pesadões superestilosos com colagem de nylon e borracha, os momentos de seda com aço inox e às incríveis peças levinhas e transparentes, num efeito meio lusco-fusco. Só vale um belo parênteses na insistência do tyvek em looks totais.
É bonito, faz uma bela fita, todo branco e amassado e etcetera. Mas, convenhamos: um macacão inteiro em tyvek não funcionaria nem na África nem em Israel, quanto mais aqui na terrinha. Paz entre os homens é uma coisa - mas impedir a pele de respirar é um crime contra a humanidade.
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